Quando o assunto é empreender muita energia deve ser dedicada à análise e reflexão prévia da viabilidade econômica e financeira do projeto. No mundo em geral, mas no Brasil em particular, as incertezas no horizonte de longo prazo são muito grandes. Infelizmente a direção político/ideológica influencia muito fortemente a vida dos empreendedores do Brasil. O ambiente econômico e institucional é hostil ao empreendedor e amigável ao rentista a depender da bandeira partidária (isso é uma constatação prática de quem assessora empreendedores há décadas, e não apenas uma conjectura). Aliado a isso, tanto a burocracia, quanto as taxas de juros conjunturais, que representam o custo do capital necessário para empreender, mudam a direção dos ventos muito forte e rapidamente no Brasil, transformando um projeto ora viável em um projeto inviável. Regras e mais regras inócuas são impostas aos empreendedores que no fim das contas desistem do projeto que poderia resultar em emprego e geração de renda em toda uma cadeia produtiva.
Dentro do contexto custo do capital para empreender é importante destacar a diferença entre uma viabilidade econômica de uma viabilidade financeira. A depender da fonte do capital, um projeto pode ter uma TIR (Taxa Interna de Retorno) razoavelmente interessante do ponto de vista operacional, mas a depender do montante da alavancagem financeira (financiamento externo pretendido) e da taxa de juros, a TIR do investidor empreendedor e o fluxo de caixa podem se beneficiar, ou podem sofrer amargamente por causa dos juros envolvidos. Pensando nisso, preparei a seguinte simulação para você entender esta dinâmica.
Imagine um projeto de investimento em construção de uma usina solar por exemplo. Imagine que este projeto tem a duração de 10 anos (normalmente este tipo de projeto passa de 15 anos). A tabela a seguir mostra os fluxos de caixa livres gerados pelo projeto. Ele requer um desembolso inicial de $100.000 e espera-se que ele produza fluxos positivos de $20.000 por ano durante os oito anos de duração (não considerei inflação embutida).
A parte "A' da tabela mostra os fluxos de caixa do projeto independente da forma de financiamento. Veja que a TIR é de 15,1% real ano ano. Se considerarmos uma taxa mínima de atratividade real de 10% ao ano, o projeto é viável do ponto de vista econômico. Entretanto considere a possibilidade deste projeto ser o único empreendimento a ser feito pelo empreendedor e ele não tem todo o capital necessário para levá-lo a cabo. Ele então consulta as fontes de financiamento no mercado financeiro e descobre que a taxa de financiamento está em 10%aa em termos reais (sem inflação embutida). Ele então faz um simulado de tomar 70% da necessidade de investimento do projeto com um determinado banco à taxa referenciada acima. A parte B da tabela mostra o fluxo de caixa da dívida. Primeiramente entra um recurso de $70.000 e depois saem prestações fixas de $11.392, onde estão embutidos os juros de 10%aa. Na parte C da tabela é possível verificar como fica o fluxo de caixa do investidor empreendedor. Ele teve entrar com um aporte de $30.000, que representa 30% das necessidades de investimentos iniciais, e depois levará para o bolso fluxos anuais de $8.608, o que representa certa de 43% do fluxo de caixa livre do projeto. Repare que na linha 14 calculei a TIR do investidor empreendedor a partir desta configuração de financiamento. Ela representa 25,8%aa, cerca de 10,7 pontos percentuais acima da TIR do projeto. Este é o efeito alavancagem positivo! O investidor empreendedor tem a oportunidade de trabalhar com o capital de terceiro, colocando, por isso, menos capital e alavancando a sua rentabilidade.
INTERESSANTE! MAS A QUE NÍVEL ALAVANCAR O PROJETO?
Isso vai depender da taxa de juros do financiamento! Veja nas duas tabelas abaixo um simulado onde a taxa de juros de financiamento está abaixo da TIR do projeto e outra onde está acima. Perceba que na primeira coluna colocamos alguns níveis de alavancagem para financiar o projeto (1% a 95%) e na última coluna as diferenças de TIR do empreendedor e TIR do projeto.
Perceba que na tabela acima quando a taxa de juros do financiamento é abaixo da TIR do projeto o efeito alavancagem é crescentemente favorável ao empreendedor. Veja que a última coluna mostra diferenças positivas cada vez maiores com o nível de alavancagem.
Bom, o que acontece agora se a taxa de juros for de 16%aa, acima, portanto, da TIR do projeto?
Com essa configuração observe na tabela abaixo que quanto maior o nível de alavancagem maior o efeito negativo para o investidor empreendedor, pois a TIR dele não fica maior que a TIR do projeto em qualquer nível de alavancagem.
EFEITO NO FLUXO DE CAIXA: A VIABILIDADE FINANCEIRA
Por fim, veja abaixo o limite de uma situação em que a taxa de juros do financiamento é 20%aa vis a vis a TIR de 15,1%aa do projeto; e com nível de alavancagem de 83,3%, ou seja, o empreendedor toma emprestado $83.850 a uma taxa de juros de 20%. Nesta situação o empreendedor desembolsa $16.150 para aportar no projeto e não leva nada de volta para o bolso durante a sua vida útil (linha 14 da tabela), pois todo o fluxo de caixa do projeto vai para pagar a prestação do financiamento (linha 10: principal+juros = $20.000 = fluxo de caixa livre do projeto na linha 7).
CONCLUSÃO
Financiar projetos com taxa de juros acima da TIR do projeto não é uma boa ideia. Esteja atento portanto ao estudo prévio de viabilidade econômica do projeto, o tamanho do aporte de capital de terceiros e o tamanho do aporte de capital próprio. Estas combinações precisam trabalhar a favor do empreendedor. Do contrário, o empreendedor irá deixar dinheiro na mesa para outros stakeholders.
Espero ter ajudado você com esta publicação a elucidar os perigos e armadilhas financeiras que podem cortar as pernas de seu projeto. Muito cuidado é pouco em um ambiente de riscos e incertezas. Modele e simule muitos cenários antes de tomar uma decisão! Empreenda mas assuma riscos calculados. Procure nossa assistência para a modelagem de projetos de investimento. Estamos aqui alegres em poder ajudar! Até o próximo post se Deus quiser!
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